terça-feira, 2 de outubro de 2012

Som, visão e persuasão: "Encandesplendoroso!"


Filme: Moulin Rouge - Amor em vermelho (2001), dirigido por Baz Lurhmann e estrelando Ewan McGregor, Nicole Kidman e John Leguizamo.

     Ah, um clássico. É praticamente impossível um musical não ter altos níveis de beleza, claro. Moulin Rouge, no entanto, transcende a maioria dos musicais aos quais estamos acostumados pelo arrebatador roteiro por trás das canções, que faria sucesso igual em um filme, digamos, convencional. Nunca — nunca mesmo — iremos cansar de histórias de amor, e a intrincada e fluente trama entre a cortesã Satine (a exuberante Nicole Kidman) e o miserável boêmio londrino Christian (o impecável Ewan McGregor, um dos meus atores preferidos, por sinal) dança e canta pelas duas horas com uma leveza inigualável.
     Tudo acontece na Paris do fim do século XIX, efervescente época cultural na Europa. Àqueles anos, a cidade borbulhava de artistas que cansavam de versar sobre suas sempre inacabadas obras e também de bordéis e prostitutas em todo e qualquer beco escuro. O Moulin Rouge, nesse panorama, era a grande atração pirotécnica e artística, que atraía toda essa casta artística que esperava sua chance para fazer sucesso (entre esses artistas está Henri de Toulouse-Lautrec, caricata figura histórica interpretada por John Leguizamo que, na vida real, utilizava o também histórico Moulin Rouge como grande inspiração para suas pinturas). Sua cortesã principal era Satine, que já não queria mais seguir tal carreira e gostaria de se empenhar como atriz. Seguindo seu sonho, acabou, em vários desencontros e confusões, encontrando Christian, escalado como escritor de um espetáculo que, graças a todo esse tumulto, seria financiado por um duque para que fosse apresentado no próprio Moulin Rouge, quando ele deixasse de ser um bordel para se transformar em um teatro. O conturbado amor de Satine e Christian é marcado pela obsessão do duque pela meretriz, pela iminência do espetáculo e por inesperados desmaios da personagem de Nicole Kidman, que logo fazem com que a anovelada relação se torne proibida e, logo após, inviável. Mas o que é impossível para a geração boêmia de 1899, que acredita, acima de tudo, no amor?
     Para Christian, o amor é como o oxigênio.

     Som
     Não existe trilha sonora melhor. Adaptações perfeitas de Nirvana, David Bowie, The Police, Whitney Houston e Queen, mescladas com canções próprias, são o ápice de Moulin Rouge. O trabalho feito em cada uma delas, injetando estilos musicais como o can-can e o tango em excelente harmonia com o rock n' roll e com boas doses de música eletrônica, simplesmente dão um tapa na cara de musicais que só se prontificam a copiar toda a estrutura da música e colocá-la em uma voz teatral. Moulin Rouge mostrou como que se inova em musicais.
     Destaques? Muitos: "Lady marmalade" é o hit radiofônico do filme que você provavelmente já ouviu e com o qual aprendeu francês pela voz de Christina Aguilera, P!nk e outras cantoras, ou vai me dizer que você nunca disse "voulez-vous coucher avec moi"? "El tango de Roxanne", tendo como base "Roxanne", do The Police, é a adaptação mais original e que dá o ar da graça no momento mais tenso de todo o filme. Por fim, as breves participações de Kylie Minogue e Ozzy Osbourne ajudam a enfeitar a trilha sonora e deixá-la bonita e brilhante como uma árvore de Natal decorada.

     Visão
     Bipolar. Em um momento você se vê no apartamento velho de Christian, em uma quietude visual quase monástica, e no outro você vê dezenas de prostitutas maquiadas pulando ao som de "Smells like teen spirit". Você acaba se acostumando com isso, mesmo assim. Você entende que a vida de Christian funciona nessa bipolaridade visual, então não se torna exatamente um problema na fotografia do filme.
     O ponto realmente relevante é o figurino e a maquiagem. Bataclã é para os fracos: O Moulin Rouge borbulha em roupas espalhafatosas e detalhadas como um vaso chinês, tanto nas cortesãs como no elenco teatral. Mesmo em momentos menos turbulentos, como quando Satine se produz mais para se encontrar com Christian ou com o duque, o trabalho visual é algo incrível, e Nicole Kidman fica cinco vezes mais bonita a cada cena em que aparece. Os cenários também são dignos de menção, tão brilhantes e meticulosos quanto as roupas. Destaque para o Elefante, o especial quarto de Satine onde ela leva seus gentis cavelheiro, tanto interna quanto externamente. É o tipo de lugar onde um fotógrafo poderia fazer centenas de ensaios sem nunca se cansar.

     Persuasão
     Não é difícil acreditar no sofrimento de Christian. Satine escorrega de suas mãos por todo o Moulin Rouge, então com uma hora de filme você já sente pontadas no coração iguais às que o personagem de Ewan McGregor sente. Além disso, os personagens são repletos de características marcantes que os transformam em caricaturas genéricas do que são: Uma prostituta infeliz em seu trabalho, um artista boêmio tentando se encontrar em um continente cheio de reviravoltas, um duque rico que está acostumado a comprar o amor. Algo bem característico em peças teatrais e musicais, o que faz Moulin Rouge não perder sua verdade.
     A persuasão se faz nas músicas emotivas, como "Come what may" e "Elephant love medley", recitadas por todo o filme. É nelas que você entende a mensagem que o longa quer passar para todos nós: "O amor superando todos os obstáculos", como Christian diz. Tudo bem, amor é e sempre será um tema batido, mas eficiente até demais se usado com maestria. Isso acontece em Moulin Rouge, que comove em meio a situações engraçadas e complexas. É um espetáculo, não? Um espetáculo que gira em torno de uma mensagem, algo tão característico quanto os personagens estereotipados, e por isso as duas horas de Nicole e Ewan valem a pena.

     Moulin Rouge não enjoa. É uma história de amor que todos gostariam de assistir, por ser tão verdadeira e tão emocionante. A parte boa? Sim, vou estragar porque esse filme já tem mais de dez anos: O final não é feliz. Ou é? Bem, ele não é o final mais convenientemente feliz que se pode esperar em um romance, e isso — a falta de convencionalidade — me agrada por demais. Esse filme merece ser assistido (e, principalmente, ouvido) muitas vezes por toda uma vida, para que todos os detalhes sejam entendidos em sua completude. E, afinal, todos nós precisamos, em toda a vida, de um empurrão para que não deixemos de acreditar na verdade, na liberdade, na beleza... e no amor.

Download do filme (RMVB, dublado, 418 Mb)

Posfácio: Estou muito óbvio nessa coluna, só colocando filminho bonitinho e cheio de dancinha. Pode deixar que semana que vem eu surpreendo vocês, beleza? Até lá!

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