terça-feira, 9 de outubro de 2012

Som, visão e persuasão: Um entre muitos



Filme: A órfã (2009), dirigido por Jaume Collet-Serra e estrelando Vera Farmiga, Peter Sarsgaard e Isabelle Fuhrman.

     É complicado avaliar a beleza de um filme de terror, principalmente um tão bizarro como A órfã. A bizarrice desse longa, contudo, diferente da série do boneco Chucky ou do contorcionismo de Regan em O exorcista, é tão coesa e convincente que quase me obrigou a escrever sobre ele. Assisti A órfa pelo menos cinco vezes — no mês em que o MaxPrime simplesmente passava esse filme todo santo dia —, e ver como o enredo se encaixa de modo sensacional em meio às atitudes da abominável Esther Coleman, a garotinha que intitula o filme, me impressionou como nunca antes.
     Quase como O chamado, essa obra de pouquíssimo mais do que duas horas é um suspense carregado de doses fortíssimas de horror e sustos. Atrás de todos os rostos pálidos e gritos desesperados existe uma história cativante e muito bem engendrada em toda sua extensão, que começa quando John (interpretado por Peter Sarsgaard, que sempre vai me fazer pensar no Jack Bauer) e Kate (a personagem de Vera Farmiga), após a sua terceira filha morrer no parto, resolvem adotar uma criança. por sua peculiar inteligência e tino artístico, Esther (a enigmática Isabelle Fuhrman) é escolhida para completar a família, que ainda conta com um filho hiperativo e totalmente repulsivo à órfã e com uma pequena filha com problemas auditivos e graciosa como a Alice de Lewis Carroll. Mas, claro, como todo bom filme de terror, coisas estranhas começam a acontecer assim que Esther é colocada sob o mesmo teto da família Coleman. O único porém, julgo, é que em A órfã as coisas que acontecem são realmente estranhas. E convencem, viu? Todo detalhe é importante nesse longa. Todo.

     Som
     Não, A órfã não conta com aquela trilha sonora cheia de metalcore da série Jogos Mortais e de Freddy vs. Jason. O clima soturno do enredo impede que qualquer tipo de animação entre pelas janelas da casa de Esther, deixando todo o longa em tranquilo horror. Não é impressionante e passa despercebida pelo filme (a não ser nas cenas de susto, quando aquele estampido genérico surge para que o efeito do pavor seja triplicado), então nem vale a pena perder tantas palavras por aqui.

     Visão
     Só que a visão de A órfã traz a diversão que você precisa em um filme de terror. O efeito utilizado na introdução e nos créditos — imagens que são transpostas por outras sob luz negra — é uma adição muito condizente com o enredo que dá um charme especial a essa produção da Warner Bros. (sim, como você imaginou, o logotipo da Warner também é afetado por esse efeito.)
Além disso, a fotografia das cenas se utiliza de muitos clichês de filmes do gênero, como reflexos e ambientes desconfortáveis, mesmo fora de situações de horror. A tensão do filme, então, é reforçada por cada um desses momentos em que você espera que algo aconteça... e nada acontece. E, de repente... nada acontece mais uma vez. E BANG! Esther ataca mais uma vez! Os sustos que A órfã proporciona são justos e coadjuvantes, de modo algum estragando a experiência repleta de detalhes. São bem-feitos mesmo assim. E assustam.
     Um último adendo: A maquiagem para Isabelle se tornar Esther é inacreditável de tão realista. Meu queixo ainda não voltou ao lugar desde que descobri que a atriz, à época, era uma garota de onze anos.
     "Ué, mas ela não é uma pré-adolescente no filme?" Pois é...

     Persuasão
     A primeira cena do filme — Kate dando à luz um bebê morto e irresponsavelmente ensanguentado — garante que os minutos restantes de A órfã sejam mantidos na mesma pressão emocional. Os detalhes, como não cansei de citar por toda essa resenha, são igualmente convincentes e utilizados com maestria. Nada fica subentendido: Tudo acontece às claras do espectador, que consegue entender sem maiores delongas o inferno que a vida do casal Coleman se torna no desenrolar do enredo graças às horrendas travessuras de Esther. E isso é um ponto altíssimo. O filme flui com facilidade, como se você não precisasse forçar seu cérebro além das duas horas que englobam a história.
     As atuações são incríveis, também. A implosão da relação entre os personagens de Peter e Vera é absurdamente bem retradada: Você entende os nervos à flor da pele de Kate assim como você entende o estresse de John, e você quase salta dentro da televisão para esganar Esther. Duvido que você não vibrou/vibra quando Kate estapeia a personagem de Isabelle Fuhrman. Eu vibro toda vez.

     A órfã surpreende como filme de terror. Vai um pouco além disso — um pouco só, mas vai — e prende a atenção do espectador com um enredo muito bem engendrado e trabalho artístico impressionante. É perturbador, comovente à sua maneira e consegue emplacar Esther como um dos mais novos mascotes desse gênero, sentada ao lado de Michael Myers e da marionete Billy. Um mercado saturado como esse, no entanto, talvez não tenha dado muito espaço para que A órfã brilhasse com mais intensidade, o que não me impedirá de assistir esse filme muito mais vezes e pensar como ele deveria desbancar muitos longas nonsense e pseudo-trash que produtoras folgadas estão lançando sem pausa. Altamente recomendado para quem quer ir além de sustos e gritos em uma história apavorante.

Download do filme (RMVB, dublado, 400 Mb)

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